O que vem a ser, realmente tradição? Qual é a sua relação com a cultura e como funciona o processo de transmissão pressuposto nessa ideia? Qual o papel da tradição no mundo contemporâneo, marcado pela globalização e pela extrema volatilidade de todas as referências? Se a tradição está, de fato, como apontam muitos autores, desaparecendo - ou se transformando profundamente - frente ao avanço inexorável do processo de modernização, parece-nos que cabe um esforço no sentido de definir a tradição e entender o seu funcionamento. (Leonardo Castriota -2009).
Paul Oliver no verbete "Tradição e transmissão" da Encyclopedia of vernacular architecture, “enuncia que se consideram tradicionais" aqueles aspectos do comportamento, dos costumes, do ritual ou do uso de artefatos que foram herdados das gerações anteriores" A tradição teria, então, uma dimensão necessariamente conservadora: o presente repetiria o passado através daquilo que ele herdou.
No entanto, a ligação que a tradição estabelece entre o passado e o presente é mais complexa do que poderia parecer à primeira vista: se as "tradita" são permanências do passado, elas existem no presente, onde desempenham normalmente a função de emprestar sua chancela de autoridade a atos do presente. Para cumprir tal função, a tradição será, como aponta Raymond Williams, sempre seletiva " uma versão intencionalmente seletiva de um passado modelador e de um presente pré-modelado, que se torna poderosamente operativa no processo de definição e identificação social cultural"
A modernidade está destruindo a tradição. Entretanto, uma colaboração entre modernidade e o risco calculável em relação as influências externas pode mitigar esse processo ameaçador. Essa fase é provocada e concluída com a emergência da alta modernidade e tradição, que foi crucial às primeiras fases do desenvolvimento social moderno período em que Beck chama de modernização reflexiva. Daí em diante a tradição assume um caráter diferente. Mesmo as mais avançadas das civilizações pré-modernas permanecem firmemente tradicional. Seria a Globalização o afastamento gradativo e, mesmo o abandono da tradição? O que liga a globalização a processos de buscas dos sistemas de monitoramento de procura de contextos de ações tradicionais?
As conexões são as consequências desencorporadoras resultantes dos sistemas abstratos. Neste caso as influências causais são complexas e estão ligadas ao caráter multidimensional da pós-modernidade. Tradição diz respeito a organização do tempo e, portanto, também ao espaço: é o que ocorre igualmente com a globalização, exceto pelo fato de que uma corre em sentido contrário a outra. Enquanto a tradição controla o espaço mediante seu regulador de tempo, com a globalização o que acontece é outra coisa.
A globalização é essencialmente, a "ação à distância" a ausência predomina sobre a presença, não na sedimentação do tempo, mas graças à restruturação do espaço. Nas últimas décadas particularmente influenciadas pelo desenvolvimento da comunicação eletrônica global, instantânea, estas circunstâncias se alteram de maneira radical mediante seu referencial de tempo.
Um mundo em que ninguém é mais forasteiro, é um mundo em que as tradições preexistentes não podem evitar o contato, não somente com os outros - mas também com muitos - modos de vida alternativos justamente por isso que o "outro" não pode mais ser tratado como desconhecido e inerte. A questão não é somente que o outro responda, mas que a interrogação mútua seja possível.
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